Sessão zero e sua importância no RPG
Sessão zero para sua mesa
Sessão zero mais é um conceito do que de fato uma sessão, no que diz respeito à reunião e progresso de jogo. Ainda que marcada possa ser, reunindo os jogadores da mesa proposta, pode ser feita por chats, chamadas de vídeo ou áudio. Ainda pode ser executada em partes, de jogador por jogador, embora uma reunião, física ou não, seja algo mais… “orgânico”. Mais aconselhável para o que propõe a coisa toda. Tal conceito diz respeito ao pilar central da mesa, o contrato social que é o RPG.
Digo pilar, pois de fato facilita e esclarece e esse é justamente o intuito. Sedimentar e iluminar o que será a mesa. Expor, supor, conhecer, fazer, revisar, ajustar, entender, compreender, falar e ouvir. É o momento do offgame que trará vida longa ao ongame.
Expôr atmosfera
Creio ser o mais importante na sessão zero. A exposição do que o narrador pretende apresentar, abordar e construir com os jogadores. Expor assim a “faixa etária” da mesa, ou que tipo de assunto pretende tocar, por mais pesado que seja. Ou não! Promover um entendimento mútuo, bem como concordância. Temas como tortura, violência sexual, gore, racismo, genocídio, ou qualquer outro, podendo ser aceito ou evitado.
Explicações podem ser dadas por todos os indivíduos sobre sim e não para certas coisas, bem como apenas a opinião pode bastar. Talvez alguém da sua iminente mesa não queira compartilhar determina coisa do seu particular. Existindo também para tais opiniões à cerca de atmosfera de jogo, o esquema de troca de mensagens, conversas particulares, só do mestre para com quem precisa, no caso de uma explicação. Ressaltando, mais uma vez, que uma explicação não é uma obrigação. Não é uma necessidade. Principalmente sobre determinados assuntos. Quem quiser visar ainda mais o anonimato das opiniões, pode distribuir alternativas para serem marcadas em folhas, existindo materiais já publicados – alguns traduzidos – para tais fins no meio lúdico.
Liberdade com empatia
Isso quer dizer que os mestres, ou grupos, devem dobrar seus planos, seja por razões cabíveis de sensibilidade, seja por hipersensibilidade de algum membro? Claro que não. A sessão zero está aí também para elucidar para todos que determinada história, narrativa, grupo ou cenário não é para todos. Caberá aos reunidos decidir como isso fluirá, se fluirá. Se determinada alteração será feita, se é uma opção ou não, ou se o indivíduo com mais “freios” quanto a proposta irá querer participar mesmo assim ou se abdicará se a proposta da mesa for X e se mantiver como tal.
Daí, novos grupos podem surgir, jogos já idealizados podem seguir, pode-se conhecer mais sobre si mesmo como RPGista. O importante é deixar toda a proposta bem clara para evitar desconfortos futuros por falta de comunicação. Consenso é o principal ao expor e colocar em prática a ideia do RPG.
Logística de jogo
O maior hardware do seu RPG! Alguns pontos mais que necessários, mesmo quando o jogo rola por vias online. No caso da sessão presencial, é necessário esclarecer primeiro onde serão as sessões. E se de fato lá haverá uma mesa. Nada que impeça qualquer sessão, no caso de não haver uma mesa (objeto, mobilha), apenas uma questão bem humorada e poética de tradição e flavor. Enfim! O local onde haverá o jogo deverá ser decidido, mesmo que isso venha a variar de sessão em sessão posteriormente.
Segundo fator de logística: comida! O lanche, ou ceia, ou almoço… será compartilhado, havendo assim uma vaquinha? Será cada um por si? Alguém proverá essa parte? Se encontrarão antes ou depois do jogo para comer? Pausarão a sessão para irem em algum lugar comer? Se compartilhado, quem traz o que? Quanto fica para cada um? Esse tópico pode parecer despretensioso, mas já ouvi relatos pesados de mesas atrapalhadas por desigualdade na vaquinha. Estão avisados!
Para concluir, confirmar a frequência da mesa, horário e duração das sessões. Como serão tratados PCs quando seus respectivos jogadores faltarem? Qual a pretensão de tempo da aventura ou campanha? Qual o limite de players além dos já convocados para a mesa, caso ainda hajam vagas? Será necessário o uso de computador, ou tudo será por livro e anotações? Celulares ficarão no silencioso, desligados ou terão acesso total durante a mesa? Entre outros retoques logísticos que variarão conforme as necessidades e naturezas de cada grupo.
Para mesas online
No caso de mesas online, as decisões cabem quanto a escolha da plataforma e chats por onde o RPG ocorrerá. Será digitado, falado, visualizado? Um ou outro, ou todos? Pesquisar e programar bots para sons e músicas durante cenas, bem como rolagens de dados. Alguns programas já vem com todos esses recursos como é o caso do Roll 20. Ainda sim, alguns grupos preferem recursos como Discord ou aplicativos como o mRPG.
Combinar diferenciais, sinais, para quando falas ou textos forem on e offgame. Avisar que no caso de chats de áudio, muitos falando ao mesmo tempo tende a deixar a coisa caótica. Verificar se a internet ou máquina de todos comporta esse formato de jogo. Caso não, se alguém poderia dividir o espaço de transmissão para si e para o colega sem o mesmo recurso.
Retome o cenário, sistema e fichas
Como narrador, julgo sempre – mas sempre mesmo – válido e necessário repassar a proposta quanto a teoria e cálculo do jogo. A sessão zero também é a hora de deixar tudo em ponto de bala! Repasse, ou explique de primeira, pontos importantes do cenário. Conhecimento geral que os personagens terão sobre povos, raças, governos, acontecimentos, lendas, percepções de sua época, cultura, religião e outros.
O que o cenário tem de similar ao mundo real e o que destoa, o que é comum lá que aqui não é e o inverso. Dê exemplos de coisas abismais para causar expectativas e encher os olhos dos players! Bem como exemplos de facilitações ou acessos a certas coisas que no mundo real não haveria. Isso também gera animação, um sentimento de “vantagem”, vontade de se lançar naquele mundo. Lembre-se de enfatizar pontos delicados, estigmatizados e perigosos desse tal cenário. Os jogadores devem saber o que pode ser uma má ideia dentro do que o jogo apresenta ou do que o narrador julga ser.
Revisite pontos básicos e cruciais do sistema com seu grupo. Como testes, rolagens e mecânicas básicas funcionam. Faça demonstrações e crie exemplos para elucidar. Seja bem claro e paciente. Pergunte se há dúvidas, mestre. Diga que há, se de fato houver, jogador. Combate. Pincele isso também no que concerne às regras, por mais narrativistas e desprendidas de regras clássicas que elas possam ser.
Retome então as fichas, confira-as. Para evitar erros, sejam trapaças ou mal entendidos. Verifique se tudo que compreende de influente tecnicamente a tal personagem foi preenchido. Tudo que foi acordado está como deve na ficha? Por fim, caso narrador, fique com as fichas. Com tempo livre, xeroque-as, transcreva-as. Tenha as mesmas em back-ups para você, ainda que a originais fiquem com seus players.
Adiantando pontos narrativos
Muitos grupos também usam a sessão zero para apresentar seus personagens, descrevê-los quanto aparência, personalidade e talvez detalhes técnicos. Às vezes, testam o roleplay, com diálogos simples em situações hipotéticas. Isso pode vir a deixar à vontade a galera. Principalmente novatos, pessoas tímidas e aqueles que tem receio em se aventurar no hobby. Nessa etapa da sessão zero, BGs podem ser lidos, se interessante ou não prejudicial para a narrativa que virá por aí, assim como entrelaçados. As ambições dos personagens podem se esclarecidas de antemão, seus detalhes, a vida até ali. O mesmo pode ser feito sobre NPCs, por parte do narrador.
Conclusão
Promova sua sessão zero para todos os esclarecimentos possíveis, visando a saúde e qualidade do RPG que está por vir. É o momento para gerar segurança, clima amistoso, maturidade, senso comum e zelo. Zelo uns pelos outros quanto pessoas e zelo pelo RPG, nossa tão amada prática.
Boas resoluções e boas rolagens, RPGistas!