RPGistas: Uma Tribo – parte 2
Envolvimento com o jogo
RPG é um jogo de diversão mútua como abordado anteriormente, bem como a relação de uma mão lava a outra entre narrador e jogadores para que o jogo aconteça. Aconteça de preferência de maneira saudável. Para entender melhor RPGistas: Uma Tribo – a qual espero que você comungue – é só dar uma conferida clicando aqui, meu caro(a).
Nessa segunda parte do nosso destrinchar, de uma possível e alegórica nomenclatura dos RPGistas: Uma Tribo, vamos analisar a forma como os tipos dentre nós se relacionam com o jogo. Prática essa que vai além do lúdico, do rolar de dados, posicionamento em grids e transcrições em fichas. Afirmo que existe todo um doar-se à prática, seja pela paixão para com o hobby, seja com adições diversas ao mesmo.
Além do rolar de dados
Muito além, com certeza. Ainda que a maioria dos RPGistas, em peso os jogadores, façam parte da parcela totalitária dessa classificação, a mais comum, toda a esfera da classificação a seguir torna o RPG uma prática ímpar e recomendável. Seguirão cinco subtipos dentre a tribo, todos listados segundo o “além do jogar”, formas de contribuição e ampliação da prática. Ainda mais em um jogo onde “vencer” é um conceito não aplicável em uma partida (sessão), fica claro que existe muito mais do que apenas jogá-lo.
RPGistas, uma tribo e seus cinco subtipos:
O Adepto
Temos aqui a pesada maioria dos players, mestres em menor quantidade ainda que inclusos. São os indivíduos que de certa forma “apenas” jogam o bom e velho RPG. São RPGistas que se estendem do mestre velha guarda versado no manual de AD&D ao novato que acabou de entrar em uma mesa de Savage Worlds. Estes, independente de idade, sistema, cenário ou posição na mesa, são os apaixonados, os assíduos do hobby. Jogando sempre que possível, consumindo toda forma de mídia relacionada e pastoreando novos membros para o saudoso Role-playing game. É uma classe generalista, mas que trata de quem realmente está lá pelo RPG em si. Bem como pelo agregar, transmitindo-o consequentemente.
Ex.: Deborah Ann Woll; apresentadora, criadora e produtora de Relics and Rarities. Também conhecida como Karen Page da série Demolidor, Netflix.
O Criador
Na linha dos escritores, o criador é um RPGista que pode ser um escritor de fato, mas ele se destaca tanto na literatura quanto no jogo como o World Builder. Este é o criador – ou customizador – de cenários, a mente por trás de raças, povos, histórias, linhas cronológicas, castas, governos, criaturas, magias, fenômenos e mitologia dos cenários de RPG. Ele cria conceitos, desenvolve e quase sempre os narra, uma vez que o criador é quase sempre um narrador. De todos aqui analisados, este pode ser um dos mais criativos RPGistas.
Ex.: Eduardo Spohr; jornalista, professor e escritor. Criador do best-seller A Batalha do Apocalipse e da franquia e Filhos do Éden, posteriormente transformada em cenário RPGístico.
O Sistêmico
Assim como mestre e jogadores precisam coexistir para que haja jogo, um cenário precisa de um sistema para se tornar algo jogável. É aí que o sistêmico entra! Ele adapta o mundo para que se torne acessível através de regras, criando flavor pelas mesmas. Fórmulas, rolagens, graduações, tabelas, cabeçalhos, informações e muito mais. Ele sedimenta o imaginário com a regra, o sistema. Podendo ser considerado o “programador” do RPG. Criando vastidões de regras como para GURPS ou gerando medidas intuitivas e flexíveis como em Terra Devastada. O engenheiro RPGista.
Ex.: Mark Rein Hagen; produtor televisivo e autor do RPG Ars Magica e de Vampiro: A Máscara, entre outros derivados de Mundo das Trevas que acabou por consagrar o sistema Storyteller.
O Artista
Um RPGista que leva a coisa toda para outros patamares. Benditos sejam os artistas! Escritores, poetas, compositores, escultores, ilustradores, editores, designers, entre outros. Ele conceitua o já criado e dá voz, visão e até texturas à nossa imaginação. Fazem capas incríveis de suplementos, esculpem miniaturas, tecem contos e falas. A vivacidade que podemos mensurar pelos sentidos vem dos artistas. Alguns grupos carecem, outros nem tanto. Indefinido como majoritariamente narrador ou jogador, ou mesmo como RPGista de fato, podendo apenas atribuir sua arte à tribo. Para a mesa, ele proporciona profundidade para a imersão tão desejada.
Ex.: André Vazzios; arquiteto, quadrinista e colorista. Ilustrador de muitos volumes clássicos de Tormenta, quando ainda 3D&T.
O Participante
Por último, mas não menos importante – talvez um pouquinho, brincadeira! – temos o RPGista ocasional. Ele(a) joga descompromissadamente, ou por consequência de seus chegados estarem jogando. Seu roleplay é parco, sua assiduidade duvidosa. Não está preso à prática como um hobby, apenas como um passatempo ou experimentação. Ainda que muitos possam fazer mesas perderem seu tempo, o participante é uma folha em branco, e a apresentação certa do RPG pode torná-lo um RPGista adepto.
Ex.: Já fui eu, pode hoje ser você, ou um conhecido(a) seu. Visemos assim mesas dispostas a acolher, ou pelo menos disseminar o conceito de RPG. Em síntese, todo participante por ser um adepto, criador, ou outro, em potencial.
Válido mencionar que muitos são RPGistas são duais, ou amálgamas destes subtipos. Em suma, somos uma tribo que fica bem com a diversidade.
Benefícios do RPG
Por fim, deixo claro que o RPG está intrinsecamente ligado à uma série de práticas benignas tais como leitura, sociabilidade, empatia, arte, olhar crítico, filosofia, história, matemática – alguns até demais, desabafo de alguém de humanas – e tantos outros. Ressaltando que há anos o RPG é bastante usado no nosso sistema de ensino, incentivado em salas de aula como método de aprendizado. Ainda que em velocidade moderada, o RPG cresce. No Brasil, com a nova edição de D&D e o retorno de Vampiro: A Máscara, o mercado talvez viva seu momento mais amplo. Pois o todo abre portas para uma série de materiais traduzidos por nossas editoras, bem como impulsão para material nacional, vide Tormenta 20 e seu financiamento lendário. Mercado em muitos aspectos é sinônimo de empregos.
RPGistas uma tribo, nossa tribo, com seus problemas como qualquer nicho. Mas, que se mantém erguida em prol das rolagens mentalmente vistas em slow motion, do olhar do narrador por sobre seu escudo, das muitas vidas que podemos de fato, pela imaginação viver.
Boas rolagens, RPGistas!