Numenera

Numenera – Conhecendo RPGs #5

Um mundo para ser explorado, este é o Nono Mundo. Um mundo de numeneras feito para ser explorado e coletado. Porque Nono Mundo? O que é uma numenera? Explorar o que e para que? Perguntas e um certo clima de “em aberto” foram aspecto que levaram o conceituado game design Monte Cook à criar este RPG. Levando ao público, através de um financiamento coletivo recordista, um cenário fantástico, mas que na verdade é pura ficção científica. “Qualquer tecnologia suficientemente avançada é indistinguível de magia”, disse Sir Arthur C. Clarke, escritor visionário de sci-fi.

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A magia em Numenera nada mais é do que a transcendente tecnologia das civilizações antepassadas que se foram.

Um mundo legado, ao mesmo tempo arruinado, onde a exploração do novo, que na verdade é antigo, é feita no presente dos povos do Nono Mundo afim de melhorar suas chances para o futuro. Confuso? Eu diria poético. Permita-me lhe situar melhor, nerd consciente.

 

Bilhões de anos no futuro

Capa do livro básico

O Nono Mundo nada mais é do que a Terra. Sim! Nosso planetinha azul. Tem esse nome no tempo presente do cenário por estar na Nona Era, pois já houveram antes oito grandes civilizações que alcançaram seus ápices tecnológicos e por algum motivo deixaram de existir. Ou pelo menos, de estar ali. Podem ter se autodestruído, deixado o planeta, ou até mesmo o plano. Terem sido destruídas por invasores, transcendido, entre outras hipóteses apoteóticas.

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Neste Nono Mundo ainda há humanos, o que ninguém explica. Bem como a existência da própria Terra diante dos eventos cósmicos que já deveriam tê-la lhe extinguido a possibilidade de vida. Tudo isso foi obra do poder dos Antigos, daqueles das eras anteriores. A ambientação é de certa forma feudal quanto ao nível geral de tecnologia e avanços, medieva. Porém, com salpicos de altíssima tecnologia e capacidades fantásticas.

Pura ficção científica “fantasiada de fantasia”.

A tecnologia dos antigos é surrealista até, sendo tida como magia. Magia essa investigada pela ordem que rege os territórios reinados, área chamada Baluarte. Dividida em nove pátrias, é unificada pela ordem do Papado Âmbar, tida por alguns como religião, e por outros como “acadêmica” por assim dizer. O foco do papado são justamente o que dá nome ao cenário, as numeneras.

 

As Numeneras

“Numén” com significado aproximado como algo de poder divino ou inspiração. “Era” uma fração temporal, um período.

Numeneras são toda forma de magia – tecnologia – deixada pelos Antigos, seja lá de que era ela veio. Tudo é mesclado, incerto, misterioso e certamente usado de maneira incorreta. A tecnologia é descontextual e algo que em sua devida era foi usado para gerar estabilidade em gravidade zero, hoje pode ter sido reduzido a um escombro geométrico e usado pelos habitantes do Nono Mundo como uma prancha voadora. O que era um leitor e alterador genético hoje é um mero cubo capaz de alterar a aparência do usuário por pouco tempo. Uma arma de fogo disforme é um cajado que dispara balaços cáusticos.

Numeneras são tidas como Cifras, Artefatos e Esquisitices. As primeiras são tecnologias comuns, mas com uso imediato, ou sem chances posteriores de uso (uma granada de vácuo, por exemplo). Artefatos são numeneras mais incomuns e que tem uso extensivo ou maior durabilidade (Um visor de raio-X se enquadra). E esquisitices são itens que sintetizam puramente o legado das eras passadas, cujo propósito é incabível, costumando apenas causar estranheza, espanto e curiosidade.

 

Um sistema mais narrativo

O manifesto pela narrativa em sobreposição as regras é visível em Numenera por parte de Monte Cook.

O Cypher System é o sistema usado em Numenera. Suas principais características são a forma de gerenciamento de recursos por parte dos personagens (o que lembra Rastro de Cthulhu) e a ausência de rolagens por parte do mestre (Como em Kult). Tais características estão intrinsecamente ligadas uma vez que se consome pontos para tais amenizações das dificuldades (rolagens), usando o chamado esforço. E como o mestre nada rola, ele apresenta intromissões narrativas, quase sempre de risco, dando a opção de consentimento ao jogador. Caso a intromissão seja aceita, pontos de experiência são recebidos para o jogador, do contrário a situação não piora – ou pelo menos não piora mais ainda – e o jogador prossegue.

Além dessa simplicidade muito bem-vinda, o sistema casa-se muito bem com a proposta do cenário, filosoficamente idealizada por Monte Cook. Aqui o sistema preza mais pela narrativa e desenvolvimento dos elementos e seres, ainda que possua características gamistas. Lidar com consumo de pontos e resultados em ficha mais subjetivos levam os jogadores a um entendimento maior sobre a profundidade na vida do Nono Mundo, bem como maior imersão na experiência de jogo.

 

Exploração e desenvolvimento

Como deve ser qualquer forma de corrida armamentista ou recursiva em um mundo com tecnologias A La tudo ou nada em termos de potência?

Numenera é um RPG de exploração, porém difere do D&D, por exemplo. D&D é focado em desbravamento de masmorras e outros ambientes com armadilhas – naturais ou não – e certamente com monstros. Como recompensa, riquezas e aumento de poder em ficha, falando em grosso modo. O teor de exploração de Numenera se dá de forma mais sensível, voltada para o que o pulp reservava nas décadas de 30 e 40. Desafios, conhecimento, horrores e aventura.

Gravura da capa do bestiário do cenário. Boas odes ao horror cósmico.

Além disso, por vezes o cenário coopera para mistificar as coisas, subentendendo ou mesmo atestando que desconhece o porquê de tal fenômeno, criatura, comportamento ou objeto. Isso soma para que mestres e grupos inteioros de RPGistas criem suas próprias nuances e verdades – ainda que supostas – sobre o que foi deixado e causado pelos Antigos.

Entender o passado perdido através do presente incerto para melhor o futuro do atual mundo, o nono. Olhar para as estrelas e satélites no céu noturno não é o bastante. Deve-se investigar o monólito que levita, cercear as criaturas extradimensionais bizarras, controlar o veículo hiperveloz, guardar em segurança o dispositivo de destruição em massa. Um RPG narrativista com a herança gamista, como o Nono mundo, como uma numenera. Como já disse, acho poético.

 

Ficamos por aqui com nossa apresentação do RPG de mesa Numenera. Boas explorações – não ative nada com ruptura molecular – e boas rolagens, RPGistas!

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