Existem nos games, existem na narrativa de uma forma geral quando interativa, certamente existem no RPG de mesa. Dois conceitos narrativos que dividem opiniões dentro do nosso meio RPGístico, preferências. Pois abordam a história discorrida de formas distintas. Railroad e Sandbox, sendo o primeiro os trilhos, a estrada, o indicativo. O segundo a maleabilidade e imprevisibilidade. Alguns diriam maior “liberdade”.
Discorreremos a seguir sobre o que significam para a narrativa de RPG, o que promovem. Por fim, o que podem trazer de benéfico quanto entendimento para as vossas mesas.
Significando “ferrovia” ou “estrada de ferro”, esse modo narrativo imprime maior senso de urgência quanto ao plot. Através do railroad o narrador tende a direcionar, reger de forma mais arbitrária o rumo da narrativa. Conduzindo a história, e com isso seus jogadores, a um ritmo crescente de desafios que apontam um caminho claro para os objetivos. Sejam esses objetivos claros para os jogadores ou não, essa forma narrativa galga de forma mais parcial. Nela, as consequências dos atos dos PCs e até as sidequests tem maior contexto para com a história, o enredo. Aventuras prontas tendem a incorporar mais esse estilo.
“Caixa de areia”. Nesse tipo de narrativa a ideia de open world se aplica melhor e principalmente em RPGs indies, com mecânicas de jogo onde players contam parte da narrativa, apelam mais para o sandbox. Nele, um problema não é apresentado como medida para a aventura. Uma situação tende a ser implementada e a partir dela rumos são decididos e construídos. Não existe um objetivo claro no que diz respeito a resolução de um problema, existindo conflitos dentro da situação de mundo que podem ou não ser influenciados ou influenciarem no núcleo de personagens, players e NPCs principais.
Para ficar mais claro, vou relatar uma chamada de aventura, campanha, enfim, história, tendo duas versões distintas. Cada qual seguindo um dos dois tipos narrativos:
“Lá estão vocês! Patrulhando as muralhas, guarnecendo o portão principal e demarcando os acampamentos fora da grande cidade-estado de Dôminus. Cidade essa que ganha espaço em meio a mata do continente selvagem e desconhecido de Garon. Uma rotina por si só árdua, mas que agora exigirá o máximo de vocês. Pois o capitão da guarda, e filho do governador, desapareceu na última incursão à selva e os poucos sobreviventes culpam criaturas monstruosas regidas por tribais xamânicos de lá dos ermos. Caberá a vocês, alguns dos mais eficientes e diversificados mercenários contratados para a expansão, resgatar o líder da guarda caso vivo, derrotar as ameaças mais iminentes para Dôminus, com isso aumentando seu território”.
“Cidade-estado de Dôminus. Primeira e única cidade do continente garoniano. Fundada por uma união de diversos povos do mundo civilizado. Uma iniciativa inédita e ousada para desbravar o quinto continente conhecido do mundo. Mercenários de fama, tais como vocês, foram chamados para auxiliar na incrível demanda de dar resiliência a tal iniciativa. Dôminus é um orgulhoso prodígio, mas também um ninho de problemas.
Uma peste epidérmica se lastra no bairro dos humanos legionários, criaturas selvagens adentraram os esgotos, cidadãos desaparecem no bairro oriental, rumores nas ruas dizem que uma guilda mal intencionada veio à cidade disfarçada de meros contratados. O comércio é parco, o trabalho braçal amplo e Garon é uma fera que tenta suprimir a cidade. Um boato se espalhou há poucas luas, sobre o suposto desaparecimento o filho do governador. Um chefe da guarda incompetente para o cargo, o tendo por uma questão de indicação. Será verdade? Dôminus espera por vocês. Ajudem-na à persistir diante das adversidades”.
É um fato que em nosso nicho de que muitos RPGistas não gostam de destrinchar a prática de forma crítica no sentido de teorias, análises, padrões, taxonomias e métodos. Muitos apontam isso como uma forma de problematizar o hobby, ou uma tentativa de “encaixotar” o pensamento, regrar algo que é feito para ser ilimitado. Contudo, isso é um equívoco.
Discutir sobre teorias, módulos, recursos, tabus e técnicas serve para criar um entendimento do que pode funcionar melhor, agradar. Aperfeiçoando mesas diversas, adequando a diversão. Tratar o RPG apenas como um hobby, e não como um hobby que também é ferramenta para muita coisa, sentencia-o a pequenez de mercado. Mais tira a visibilidade do mesmo como arte, método e comércio do que a chama.
Sendo assim, trazer uma discussão que leva a uma suposta solução por vias extremas quase nunca é a solução. Tratar railroad e sandbox como antônimos, vetores que se anulam, não é uma conclusão saudável para o RPG. Um plot sempre irá existir, mesmo que seja a medida que se galga de forma não linear uma história. Algo irá se definir, seja por preparação do narrador ou por consequência dos jogadores. Algo irá ganhar a dimensão que uma conclusão deve ter, mesmo que anticlimática. Assim como um mundo aberto não significa viver uma história sem aprofundamento, sem ganchos, ligações, consequências, coincidências e contextos. Afinal de contas, um mundo, NPCs e histórias podem viver, respirar, independente dos PCs. Bem como podem ser inevitavelmente afetados por eles.
Sabemos que a nível de hobby, dentro da seara original do RPG por assim dizer, o principal objetivo é se divertir. Entre narrar com um método ou com outro, saiba que narrar railroad e sandbox é possível. Sem nenhum mistério. A presença de um plot não eximi as possibilidades em um mundo aberto. Cabendo ao narrador sedimentar as relações em jogo, os porquês dos personagens, principalmente dos players, para que conduzam a história sim, no entanto, o faça sem excluir a sinergia externa. Os efeitos que o mundo causa dos personagens e o inverso.
O mundo ao redor não vive em função dos jogadores e nem o contrário. Ambos se complementam. Crie medidas para situar sua narrativa, mas seja justo e sincero ao ponto de improvisar bastante e gerar a sensação aos demais na mesa de que o cenário, o jogo, é um bioma. Respondendo, reagindo, subvertendo, expandindo por si só, somando a isso os feitos e presença dos PCs.
Tanto em railroad quanto em sandbox há elementos incrivelmente úteis para assegurar uma narrativa de qualidade. E ainda que se prefira um ou outro, seja em grau de indivíduo RPGista ou de mesa, conhecer ambos certamente ajudará muito. Inclusive, na vossa diversão.
Boas estradas de areias e boas rolagens, RPGistas!
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