CRÍTICA – Xtreme
Coreografado, estilizado e é só isso
Fica claro em longas como Xtreme, original Netflix do diretor Daniel Benmayor, que John Wick enquanto franquia e produto é quem segue ditando as regras do gênero de ação, principalmente depois de seu segundo filme. Até pela tipografia dos créditos de Xtreme isso fica óbvio. Como o longa bebeu da fonte Wick. O mesmo pode-se dizer de sua estilização quanto iluminação, sets e até no uso de trilhas sonoras pontuais em momentos de pancadaria, misturando incidental (aquela tida apenas pelo espectador) com diegética (aquela que se faz real na cena, como elemento também aos personagens).
Tudo isso pode ser considerado como pontos positivos? Talvez, se você não se importar com certo descaramento, já que é tão óbvia a inspiração em John Wick que para muitos Xtreme pode carecer de identidade visual própria. Seu enquadramento pode vir a ser um ponto diferencial para contrabalancear a emulação alheia.
A fisicalidade do filme é competente quanto as lutas e a violência no geral. As coreografias não são cheias de corte, presando por um entendimento geográfico da pancadaria, deixando visível também o esforço dos atores envolvidos em tais momentos. Deixo um destaque aqui para Óscar Jaenada, que desde de Os Perdedores (2010) já demonstra muito carisma.
Em Xtreme, Jaenada dá vida a um chefão criminoso cujos crimes despertam a vingança de seu irmão, ao qual acreditava-se estar morto. Uma história de vingança comum. Mesmo sendo um tremendo de um asqueroso e caricato, Lucero (Jaeanada) consegue ser um personagem cool.
No mais, Xtreme é cheio de conveniências para alimentar reviravoltas cujo espectador finge ter se surpreendido e não premeditado. Personagens tomam ou deixam de tomar decisões implícitas, fazendo ou deixando de fazer coisas como se soubessem que são regidos por um roteiro conveniente. Como se soubessem que estão em um filme cujo terceiro ato ainda não chegou. Um roteiro pífio e ofensivo à inteligência.
Note que a história ser batida ou mesmo comum, não é o problema aqui. Xtreme brinca de ser no sense em medidas que simplesmente não se justificam. Mesmo nos momentos de ação isso ocorre, o que mancha a parte técnica bem desempenhada dos combates.
Uma enxurrada de minions vem chegando em intervalos para enfrentar o protagonista na mão, na base do sopapo, quando já ficou claro que todos que vão pra isso morrem. E mesmo assim aquilo segue. Ninguém saca uma arma de fogo, ninguém cerca o elemento. O próprio prólogo demonstra que diante de um arma em distância ineficaz para uma reação corpo-a-corpo dá-se cabo do anti-herói Máximo (Téo Garcia).
Xtreme decide relativizar a margem de ameaça do protagonista, fingindo que esta não é sabida, embora o elemento seja temido no submundo por suas capacidades na fina arte da trocação – inclusive de tiro – enquanto os vilões apenas não querem matá-lo de fato, ainda que profiram isso. Novamente, como dito, até nas cenas de ação todos agem como se soubessem que estão em um filme.
O resultado final é algo bem mediano dada a falta de originalidade gráfica, que por fim, beira o medíocre se somarmos a narrativa e seus elementos.