Matrix – Como trabalhar Identidade com maestria.
O Espinho
(ESTA ANALISE PODE CONTER SPOILERS DO FILME)
Matrix, lançado em 1999 é um dos clássicos mais bem vistos e aclamados do cinema, sua quebra de padrão, alegoria a identidade, individualidade e seus revolucionários efeitos cativaram uma geração inteira de cinéfilos. Entretanto o trabalho com Neo, roteiro inclusivo e bem trabalhado são o brilho da obra.
Neo e Thomas A. Anderson são ambos identidades que apesar de possuírem o mesmo rosto são completamente diferentes. Os dois representam a dualidade que o protagonista esta diariamente vivendo entre um respeitável programador que segue todas as regras e um Hacker que vasculha as redes em busca da ”verdade” sobre o mundo a sua volta mas talvez sobre si mesmo.
”Eu vou lhe mostrar a porta, você escolhe atravessa-la” – Morpheus
Primeiro ato – Entrando na toca do Coelho
O primeiro ato nos apresenta ”Sr. Anderson”, um homem acuado e vivendo como se espera dele, como o sistema espera dele, entretanto nunca realmente feliz. Alusão a como pessoas que não se enquadram em padrões binários são obrigados a ”fingir” e acreditar serem oque não são, dando margem pro personagem explorar esse incomodo invadindo sistemas em busca de autoafirmação.
Então temos Neo, álter ego de Thomas. Mas na realidade é quem ele realmente se conforta em ser. quando Thomas recusa a ajuda de Morpheus isso o leva justamente a ser oprimido no mundo em que ele considerava confortável, o mundo aonde ele fingia se enquadrar, que agora mostrou hostilidade a ele. Entretanto quando ele aceita a pílula vermelha Thomas aceita ir até a verdade sem olhar para trás.
Escolher entre a verdade crua e ilusão desconfortável é como as diretoras escolheram abordar suas alegorias as pessoas trans. Parcela que é tão discriminada. Ambas as criadoras do longa são trans é possível se notar o cuidado com as escolhas de Neo o mesmo não tem nada imposto a ele para se libertar, entretanto, por mais difícil que ser livre possa ser é melhor do que a mentira.
“Eu ofereço a verdade e nada mais.” – Morpheus para Neo
Ato 2 e 3 – Quem sou eu.
Em uma das cenas icônicas do longa, Neo, rejeita ser chamado de ”Sr. Anderson” assumindo o manto de Neo, seu verdadeiro eu. A cena é preparada durante grande parte do segundo ato como um quebra cabeças, Morpheus tenta ao máximo fazer Neo acreditar ser o escolhido e cria uma tensão no protagonista, tensão essa que é posta de lado graças ao oraculo.
Deixar de lado a pressão de ser ”O Escolhido”, Neo escolhe acreditar que pode salvar Morpheus, enfrentar os agentes e arriscar, coisa que nenhum antes dele fez até então. Libertando sua mente de medo e duvida e escolhendo acreditar, curiosamente isso o leva a ser justamente o escolhido.
o escolhido é impor seu ” ego” no mundo a sua volta, quebrando os padrões e moldando novas rotas e destinos, em um controle pleno de seu destino, pleno controle da ”realidade” que Matrix tenta impor mas que pode ser dobrada por aqueles que podem ver oque é de fato real, eles mesmos.
”Não há colher” – Neo Entendendo a verdade.
Ser o Escolhido
O roteiro faz uma confusão com as emoções de Neo, plantando duvida e pressão sobre seus ombros. Entretanto fazendo essa some ao não deixar claro se Neo era o escolhido ou ainda não havia se tornado o escolhido. Ah cena da colher que se dobra nos revela plenamente como Matrix é frágil contra quem sabe quem é, aqueles que compreendem quem são e entendem o oque é realidade podem literalmente dobrar as regras fazendo o sistema trabalhar a seu favor.
Ser o Escolhido é um estado de espirito, em alegoria ao Ego, seu eu verdadeiro, em quanto Neo lutava para entender quem era ele nunca poderia ser o escolhido. Aceitar que ele é Neo o fez poder destruir as regras, e pela primeira vez se identificar como um individuo.
”Parece que você espera por algo” – Oraculo
Representatividade e Cultura.
Matrix influenciou diversas obras depois de de seu lançamento, suas cenas memoráveis e roteiro bem escrito são um primor. Recentemente as irmãs Lilly e Lana Wachowski revelaram que muito do roteiro de Matrix é uma alegoria aceitação e transição de gênero.
Assistir novamente Matrix por essa nova ótica de certo modo faz o filme brilhar ainda mais por não obvio. Um filme obrigatório para os cinéfilos e educativo para pessoas que desejam entender como se escreve um tema complicado mas com muita criatividade.
Abordar o tema de gênero em um filme de ação e ficção cientifica consagra o cuidado e talento das irmãs Lilly e Lana Wachowski. Nada deixado de lado, cada relação entre personagens é orgânica e memorável, desde a fé de Morpheus até a traição de Cypher, dando destaque a Trinity interpretada por Carrie-Anne Moss. A mesma é junto de Keanu a chave da empatia entre os personagens.
Conclusão
Matrix é atemporal, suas mensagens de liberdade, aceitação e identidade são relevantes até hoje no cinema. Inegavelmente poucos filmes conseguiram ser impactantes como Matrix e igualmente relevantes para a indústria revolucionando seu meio.
Com a gravação do 4 longa é certamente esperado outro encontro as mesmas filosofias agora mais maduras, oque esperar de Matrix? Inegavelmente, ansiedade e expectativa mas todos esperamos surpresa e o mesmo carinho e cuidado com esta saga que mudou o cinema.
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”Assim como eu você aprenderá que existe uma diferença entre conhecer o caminho e trilhar o caminho” – Morpheus
Per aspera ad astra e voltem sempre.
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