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Grant Morrison é uma pessoa não-binária: e por que isso importa.

Grant Morrison é LGBTI+!

Grant Morrison, que já escreveu para Marvel e para DC, além de ser roteirista em diversas séries de TV, se revela ser uma pessoa não-binária desde os 10 anos de idade. Outros artistas como Sam Smith, Ezra Miller (Flash; Liga da Justiça), Indya Moore (Pose), Rebecca Sugar (Steven Universe) e Ruby Rose (Batwoman) também já se declararam sendo pessoas não-binárias.

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Pessoas não-binárias são aquelas que não se identificam totalmente como homem, nem como mulher, independente do sexo atribuído à elas ao nascer. São pessoas trans que fazem parte da comunidade LGBTI+, na verdade as pessoas pioneiras do movimento já se colocavam nesse lugar, isso lá no final dos anos 60. Para entender melhor, veja o vídeo de Bryanna Nasck, também não-binária, sobre o assunto.

Morrison escreveu em diversos títulos da DC como os de Batman e Superman e revolucionou a indústria de quadrinhos com Patrulha do Destino, que agora tem uma série de TV dentro do universo de Titãs. Além disso, também escreveu Homem-Animal, Liga da Justiça da América, Lanterna Verde e Flash.

Seu trabalho, que certamente marca presença na cultura das histórias em quadrinhos, não termina aí. A sua run dos X-Men, intitulada Novos X-Men, também quebraram barreiras na Marvel e foi uma das principais inspirações do último filme dos X-Men nos cinemas, Fênix Negra.

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Morrisson se declarou na promoção da sua nova série, Brave New World, em uma entrevista com Monodo2000.

A revista tinha lhe perguntado: “Reconhecendo a noção das palavras e símbolos sendo carregados na magia, elas também foram carregadas por meio das propaganda que cresceu enormemente ao longo do século XX. Isso não é algo que RAW está constantemente lembrando seus leitores? Que a propaganda é real, e muitas delas se alimentam de nossas emoções básicas, como raiva e medo. A maioria das pessoas não reconhecem que nem viram o FNORDS!”

Morrisson respondeu: “É mais como se as sensações das pessoas, de imensa energia, sejam comprimidas em certas palavras. Não é a palavra em si – como Wilson bem nos lembrou, ‘f***’ é uma palavra ‘ruim’, mas não soa tão diferente de ‘foca’, uma palavra ‘boa’. E é o mesmo para ‘coito’, outra palavra ‘boa’. Então como exatamente está a maldade e a sujeira na palavra ‘f***’?

“Palavras são fetichizadas por bem ou por mal, e quanto mais elas são fetichizadas, mais elas se tornam um tabu, o que cria uma aura de sensualidade fora-da-lei que atrai as pessoas à ela,”

Grant ainda acrescenta: “O Lenny Bruce, George Carlin, e o próprio Bob Wilson, todos eles fizeram pontos muito importantes em dizer que as palavras não deveriam receber tamanho poder porque, uma vez que as tem, podem se tornar fetichizadas e transformadas em armas. Se você tirar o poder de uma palavra, ela deixa de ser um gatilho para as pessoas que são vítimas dela. Mas ainda não estamos nessa fase, não com a política deslocada que temos.

“Eu acho que as pessoas acertaram em derrubar algumas dessas estruturas agora, talvez não haja problema em excluir alguns termos tóxicos e abusivos, desde que tenhamos certeza de que estamos criando novas palavras para outras áreas.” completou.

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Veja também: Existe Sandman sem representatividade? Entenda a treta envolvendo o criador.

E aqui que Grant se declara sendo uma pessoa não-binária:

“Por exemplo, quando era criança, não haviam palavras para descrever alguns aspectos da minha vivência. Tenho sido uma pessoa não-binária, transformista, gênero queer, desde quando tinha 10 anos de idade, mas os termos disponíveis para o que eu estava fazendo e o que eu sentia eram poucos e bem diferentes entre si.

“Nós tínhamos ‘transexual’ e ‘travesti’ [que, fora da América Latina, tem uma conotação negativa] que pareciam mais classificações patológicas do que um estilo de vida! Eu não queria que me diagnosticassem como uma aberração médica, porque não era assim que eu me sentia, nem era algo simples e pronto. Eu não queria me transicionar ou incorporar meu lado ‘feminino’ completamente, não tinha ideia de onde me encaixava.

“Termos como ‘gênero queer’ ou ‘não-binário’ apenas entraram em voga no meio dos anos 90. Então crianças como eu tinham maneiras muito limitantes de descrever nossa atração por sair dos padrões de gênero e nossa ambiguidade sexual. Hoje em dia existe todo um vocabulário novo, permitindo que as crianças descubram exatamente onde se sentam na ‘roda de cores’ dos gêneros e das sexualidades, então acho que não há problema nenhum em perder algumas palavras tendenciosas quando você está criando novas que oferecem uma abordagem bem mais complexa para as nossas experiências.”

Grant conclui sua fala dizendo: “Quando fizermos o salto em direção à uma linguagem baseada em emoji, fora do alfabeto romano, para fins de comunicações ‘radiotelepáticas’, as coisas irão mudar de vez.”

E por que isso importa?

Grant Morrison é um dos maiores escritores da nossa era – dentro e fora dos quadrinhos. Suas histórias já desafiam a norma por si só. Seus super-heróis não são criticismos diretos e, às vezes óbvios, como os trabalhos de Alan Moore. Tampouco são celebridades e deuses, como o trabalho de Peter David. Grant consegue ser os dois e nenhum deles ao mesmo tempo. Seus personagens são humanos, e não-humanos ao mesmo tempo, tem sentimentos, são relacionáveis e lidam com consequências.

Para falar a verdade, no seu trabalho não é incomum a presença de super-heróis que na verdade são excluídos da sociedade por serem diferentes. Na sua run de X-Men, os mutantes lidam com ameaças humanas ou baseadas na discriminação, como toda a saga que levou ao Genocídio de Genosha. As interações entre os personagens da saga são baseadas na coexistência, podendo citar principalmente a antiga rivalidade entre Jean Grey e Emma Frost que é resolvida de maneira muito inteligente e cautelosa.

É impossível não citar também todo seu trabalho com Patrulha do Destino, que segue uma mesma lógica. De pessoas que se unem pois são excluídas da sociedade por serem diferentes. Essas narrativas com certeza, agora com as informações que temos, bate muito com uma vivência trans não-binária. A luta por sobrevivência por ser diferente do “normal”. São narrativas que nos inspiram e nos fazem crescer e continuar (sobre)vivendo.

Não é novidade pra ninguém que o público leitor de quadrinhos pode vir a criar espaços muito tóxicos e nocivos para pessoas LGBTI+. E agora temos um dos maiores precursores desse público sendo justamente parte dessa comunidade, inspirando outras pessoas que veem o quadrinho ainda com medo.

Grant Morrison é LGBTI+, é uma pessoa não-binária, trans. E isso é extremamente importante e inspirador pra todos que conseguem enxergar.

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Para ler a entrevista na íntegra: Grant Morrison Surveys the Situation In “Age of Horus”

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