Entre choro dos boomers e o primeiro trailer desonesto exibido pela Netflix, temos os primeiros cinco episódios de Mestres do Universo: Salvando Eternia. E para deixar claro, é válida a indignação pelo marketing apelativo, e até suicida do streaming, uma vez que só serviu para dividir a fanbase original do título. Provavelmente foram convencidos pelo medo de que se apresentassem a premissa desnuda, já estaria certo de não contarem com tal parte de fãs. O que pode ser verdade! Os famigerados “vocês destruíram minha infância”. Então, seja pelo público mais purista e birrento, seja pelos executivos que dão tiros nos próprios pés, temos o conteúdo em si.
Após uma batalha decisiva entre as forças do Castelo de Grayskull e a Montanha da Serpente, He-Man e Esqueleto desaparecem, paralelo a isso, a magia de Eternia se esvai, ficando apenas a sua tecnologia. Temos aqui, inicialmente, Teela como protagonista, mas não de forma forçada. Ela assume o papel da heroína renegada, todavia, por motivos contextuais e que futuramente se contrapõe à própria, fazendo-a perceber que não é a dona da verdade.
Fiquem tranquilos! Teela não é uma “nova Amber (Invincible)”. O enredo não compra suas incongruências. Pelo contrário! As disseca, assumindo coesões e rebatendo excessos. Mestres do Universo vai muito além da nostalgia, finalmente atribuindo profundidade aos personagens eternianos, conflitos diversos, subtramas e perspectivas humanas. Agora não basta apenas gritar “Pelos poderes de Grayskull” e com isso vencer o conflito episódico. Agora todos tem seus problemas, personagens coadjuvantes com ótimas motivações.
Sem falar da própria Eternia e dimensões vizinhas, desenvolvidas aqui com gosto! Da magia à tecnologia. E para quem recente pelo fato de He-Man não ser o protagonista – até então – o mesmo é o sol nesta série enquanto demais são os planetas, e o mesmo vale para o Esqueleto. Tudo orbita a importância de He-Man para Eternia e seus amigos. Todo episódio, He-Man, ou Adam, é revisitado. Ele sempre está lá!
Como pontos baixos, existe a já apontada bait netflixiana. Além disso, algumas justificativas de coisas antes não questionadas no passado da animação, como o que é de fato o Castelo de Greyskull, são jogadas de forma muito simplista para o espectador. Embora isso agilize a trama, às vezes soa expositivo, bem como discursos vilanescos e outros clichês, que sim, acontecem aqui! Pode ser proposital para emular os ares oitentistas? Claro que pode. Funciona? Fica a critério do consumidor. Quanto a animação em si, é bonita, mas nada visualmente incrível. É apenas competente.
Por fim, Mestres do Universo justifica seu nome, dando holofotes para personagens incríveis por si só, sem agir como se sentisse vergonha de seu passado. Sem renegar o que antes sobrepunha o título animado aqui no Brasil. Sem abandonar He-Man.
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